Startup chinesa DeepSeek desafia o monopólio das big techs e redefine os caminhos da inteligência artificial
Na corrida pela inteligência artificial, onde as gigantes da tecnologia pareciam ter tomado a dianteira, surge um novo competidor que pode mudar as regras do jogo.
A startup chinesa DeepSeek entra em cena com uma proposta ousada: provar que o futuro da IA não está nas mãos de poucos. Com tecnologia inovadora e um modelo de código aberto, a empresa desafia o domínio de OpenAI, Google e Meta, reacendendo o debate sobre o acesso e o controle da inovação.
A DeepSeek desenvolveu seus próprios modelos de inteligência artificial, o V-3 e o R1, alcançando resultados comparáveis aos dos sistemas mais avançados do mundo, mas com um diferencial: utilizando uma fração dos recursos computacionais das big techs.
O modelo R1 é um avanço significativo, pois se aproxima do conceito de "pensamento", permitindo um raciocínio estruturado e com capacidade de aprendizado aprimorada.
Enquanto o Google investiu US$ 191 milhões para treinar seu novo modelo Gemini e a OpenAI se aliou ao governo dos EUA para criar um projeto bilionário de infraestrutura para IA, a DeepSeek conseguiu um feito impressionante: testou seu modelo com um investimento de apenas US$ 5,6 milhões. Isso demonstra que não são necessários bilhões de dólares ou chips de última geração para inovar nesse mercado.
A proposta de código aberto da DeepSeek também muda as dinâmicas do setor. A empresa compartilha informações essenciais sobre como o algoritmo raciocina e como é treinado, permitindo que outros pesquisadores e desenvolvedores aprimorem a tecnologia. A startup não divulga seus dados de treinamento, o que gerou uma onda de acusações de roubo de propriedade intelectual por parte da OpenAI, em um embate que evidencia as tensões desse mercado.
A inovação da DeepSeek vai além da tecnologia. Seu modelo conseguiu reduzir drasticamente o custo de operação da IA, ou seja, o custo para processar um milhão de tokens caiu de US$ 60 para apenas US$ 2.
Essa mudança pode ter um impacto direto em países emergentes como o Brasil, que dependem de infraestruturas caras para desenvolver suas próprias inteligências artificiais. A ministra de Ciência, Tecnologia e Informação, Luciana Santos, destacou que essa evolução abre caminho para que nações em desenvolvimento possam competir de igual para igual nesse mercado.
O modelo também levanta questionamentos. Análises revelam que a IA da DeepSeek apresenta censura e alinhamento às diretrizes do governo chinês, evitando temas considerados sensíveis pelo regime. Essa limitação gera preocupação sobre a liberdade de informação e a transparência na aplicação dessa tecnologia.
O impacto da DeepSeek já se reflete no mercado. Em um único dia, as principais companhias de tecnologia dos EUA perderam US$ 1 trilhão em valor de mercado. Esse movimento acendeu o alerta sobre o futuro da IA: ele estará restrito às grandes corporações ou se abrirá para novos players, democratizando o acesso à inovação?
O sucesso da DeepSeek mostra que ainda há espaço para revoluções no setor. Ao desafiar as big techs, a startup lança uma pergunta fundamental: e se a inteligência artificial não precisar mais estar sob o controle de poucos? O futuro da IA ainda está em disputa e a corrida está apenas começando.
Sobre a autora:
Flávia Fernandes é jornalista formada pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), professora de língua inglesa e especialista em inteligência artificial pela PUC Minas e Faculdade Exame. Apaixonada por comunicação e inovação, investiga as conexões entre tecnologia, sociedade e o cotidiano.