Os amantes da arte de Montes Claros, no Norte de Minas Gerais, têm a oportunidade de visitar a exposição “O que brota do comum”, que reúne obras das artistas Samira Pavesi, do Espírito Santo, e Denise Calasans, do Rio de Janeiro, no Museu Regional do Norte de Minas (MRNM).
Com curadoria da pesquisadora e crítica Gabriela Davies, a mostra propõe uma travessia poética pelo banal, pelo que escapa ao olhar apressado, pelas formas silenciosas que insistem em se manifestar nos interstícios da vida cotidiana.
O trabalho de Samira Pavesi é exemplar nesse sentido. Ao utilizar materiais recolhidos no espaço urbano — grades, pedaços de madeira, telas metálicas, sobras da construção civil, plásticos de sinalização —, ela compõe esculturas e assemblages que provocam um duplo deslocamento: primeiro, do objeto que perde sua função original; depois, do olhar do espectador, que é convidado a reconstruir sentidos a partir do fragmento, do vestígio, do inacabado.
Como aponta a curadora, “há, em sua produção, uma arqueologia do agora”, na qual o gesto artístico não busca reviver o passado, mas reencantar o presente com as sobras da cidade.
A exposição marca mais um momento importante na trajetória da artista, que tem se consolidado no circuito contemporâneo brasileiro e internacional.
Em 2025, Samira participou de uma coletiva em São Paulo, expôs em Florianópolis, foi selecionada para residências artísticas em Portugal (NOWHERE e PADA Studios), Espanha e apresentou trabalhos na França. Essas experiências reforçam o alcance de sua pesquisa estética e ética, centrada na escuta dos materiais e na reconstrução de afetos a partir daquilo que o mundo costuma descartar.
“A exposição é um convite à desaceleração e à escuta sensível do entorno”, afirma Gabriela Davies. E esse entorno, aqui, ganha contornos múltiplos: o das ruas da cidade, o dos materiais ressignificados, o das experiências subjetivas e o do interior geográfico e simbólico do Brasil.
Ao lado de Denise Calasans, cuja pintura é marcada por gestos abstratos e orgânicos que evocam respiração, silêncio e suspensão, Samira estabelece uma conversa entre o urbano e o sensível, entre a dureza dos materiais e a suavidade das pequenas revelações que surgem da observação atenta. Para o diretor do MRNM, Georgino Jorge de Souza Neto, a mostra é um exemplo de como a arte pode revelar “o mundo que se apresenta no universo das suas pequenezas”. Segundo ele, *“O que brota do comum” é o extraordinário!”.
Outro aspecto relevante da obra de Samira é o seu compromisso com a sustentabilidade.
Ao reutilizar materiais descartados, ela propõe não apenas um reaproveitamento ecológico, mas também simbólico: seus trabalhos são como ruínas contemporâneas que, em vez de lamentar a perda, afirmam a potência do que permanece.
São registros do tempo urbano convertidos em poesia visual — ressignificações que desafiam a lógica do consumo e do descarte acelerado, sem abrir mão da sofisticação estética.
A presença de Samira Pavesi no MRNM é também um marco para a visibilidade da arte capixaba no circuito nacional. Vinda de um estado cuja produção artística ainda enfrenta desafios de reconhecimento além de suas fronteiras, a artista se destaca por uma obra que alia rigor conceitual, apuro formal e uma sensível escuta do mundo à sua volta.
Nesse caminho, ela contribui não apenas para sua trajetória individual, mas para o fortalecimento de uma cena artística mais plural, diversa e enraizada nos territórios.
A exposição “O que brota do comum” fica em cartaz até o dia 6 de julho, com entrada gratuita. A abertura, no dia 13 de junho foi às 17h, e contou com a presença das artistas e da curadora. Em seguida, você confere uma entrevista exclusiva com Samira Pavesi, que fala sobre sua obra, sua trajetória e os sentidos que emergem quando se olha com atenção para aquilo que o mundo geralmente ignora.
SERVIÇO
Exposição: O que brota do comum
Artistas: Samira Pavesi (ES) e Denise Calasans (RJ)
Curadoria: Gabriela Davies
Período de visitação: até 06/07
Horário: Segunda a sexta, das 8h às 18h
Entrada: Gratuita
Local: Museu Regional do Norte de Minas – Rua Cel. Celestino, 75 – Centro, Montes Claros/MG
Produção: Luana Z.
Atelizê Produção Cultural