O Projeto Sururu, desenvolvido pelo Instituto Goiamum, está mudando a forma como comunidades litorâneas lidam com resíduos e sobrevivem economicamente.
A partir da coleta e reaproveitamento de cascas de sururu, tradicional molusco amplamente consumido na região, o projeto transforma toneladas de descarte em um insumo agrícola
O Projeto Sururu transforma resíduos de sururu em fertilizante agrícola e se destaca no regeneração ambiental, empoderamento de marisqueiras e economia circular baseada na economia azul.
Enquanto milhares de toneladas de cascas de sururu são despejadas todos os meses em praias, manguezais e canais, comprometendo o equilíbrio ambiental e a saúde pública, o Projeto Sururu se propõe a virar o jogo: transformar esse resíduo em corretivo agrícola orgânico de alto valor, enquanto fortalece comunidades tradicionais de marisqueiras, valoriza seus saberes ancestrais e recupera áreas degradadas.
Essa experiência de sucesso que está sendo apresentada ao público no Sustentabilidade Brasil 2025 – Transformar é Preciso, um dos maiores encontros do país voltados à pauta socioambiental, que acontece de 11 a 14 de junho, das 9h às 21h, na Praça do Papa, em Vitória (ES).
Com um stand próprio, o Instituto Goiamum vai apresentar o ciclo completo do projeto, da coleta das cascas ao produto final, além de depoimentos, vídeos, oficinas, amostras e diálogo com empresas, gestores e universidades.
De problema ambiental a solução regenerativa
Os manguezais são conhecidos como berçários da vida marinha, mas enfrentam múltiplas ameaças — entre elas, o acúmulo de resíduos sólidos.
As cascas de sururu, quando descartadas sem tratamento, acumulam-se em camadas que assoreiam os estuários, alteram o pH da água, matam espécies e geram mau cheiro. Além disso, representam um risco sanitário e um passivo ambiental crescente nas áreas urbanas litorâneas.
Foi observando esse cenário que o Instituto Goiamum, em diálogo com pescadoras e marisqueiras de Porto Santana, em Cariacica, propôs um caminho inovador: recolher essas cascas e processá-las industrialmente, gerando um corretivo agrícola natural, sem aditivos químicos, capaz de corrigir a acidez do solo e melhorar a produção agrícola.
Atualmente, na fase piloto, o projeto conta com a participação direta de 50 marisqueiras, que recebem formação técnica, equipamentos de proteção e remuneração justa. A cada mês, são recolhidas e beneficiadas 15 toneladas de cascas de sururu, que antes iriam para o lixo ou para o mangue. O corretivo agrícola resultante tem sido utilizado em plantações agroecológicas e hortas comunitárias, com excelente desempenho e aceitação.
Economia azul, saber tradicional e dignidade para quem vive da maré
O projeto se alinha à economia azul, conceito que propõe o aproveitamento sustentável de recursos marinhos e costeiros com impacto positivo para as comunidades locais. Mas vai além: fortalece uma rede de mulheres historicamente invisibilizadas, que vivem da cata do marisco, muitas vezes em situação de extrema vulnerabilidade social.
Para Iberê Sassi, presidente do Instituto Goiamum, o projeto é antes de tudo uma plataforma de regeneração: “Recuperamos o mangue, recuperamos o solo e recuperamos também a dignidade de mulheres que sempre sustentaram famílias inteiras com o trabalho da maré. Agora, esse trabalho é valorizado e reconhecido como parte da solução”.
A transmissão intergeracional de saberes, de mãe para filha, faz parte do ethos do projeto. A técnica da cata do sururu, as formas de se orientar pelas marés, os cantos e modos de fazer — tudo isso é entendido como patrimônio imaterial. O Projeto Sururu transforma essa cultura viva em valor econômico e ambiental.
Além disso, o modelo é totalmente replicável. Segundo mapeamento do Instituto Goiamum, só na Região Metropolitana da Grande Vitória existem cerca de 500 marisqueiras em atividade, com potencial de adesão e ampliação da rede produtiva. Em âmbito nacional, estima-se que milhares de famílias possam ser beneficiadas, especialmente no litoral norte e nordeste.
Do mangue à roça: ciclo de vida, renda e sustentabilidade
O produto gerado pelo projeto — o corretivo agrícola à base de casca de sururu — atua na redução da acidez do solo, melhora a disponibilidade de nutrientes e fortalece cultivos em sistemas agroecológicos. Ele também representa uma alternativa real ao calcário agrícola convencional, cuja extração mineral demanda alta energia e provoca degradação ambiental.
Entre os diferenciais do produto, destacam-se:
Origem orgânica e rastreável
Baixo custo de produção
Produção local e comunitária
Sem uso de químicos sintéticos
Redução de emissões na cadeia produtiva
O Projeto Sururu tem potencial para se integrar a políticas públicas de agricultura familiar, compras institucionais e programas de sustentabilidade rural. A equipe do Instituto Goiamum já articula parcerias com prefeituras, universidades e redes de agroecologia para expandir a aplicação do produto.
Além do corretivo agrícola, o Instituto estuda o desenvolvimento de novos produtos derivados da casca, como materiais para construção civil (cimento verde), peças de artesanato ecológico e até insumos para compostagem e alimentação animal.
SERVIÇO
Evento: Sustentabilidade Brasil 2025 – Transformar é preciso
Stand: Projeto Sururu – Instituto Goiamum
Data: 11 a 14 de junho de 2025
Horário: das 9h às 21h
Local: Praça do Papa – Vitória, Espírito Santo
Atividades no stand:
Demonstração do processo de transformação das cascas
Exposição do corretivo agrícola e outros derivados
Roda de conversa com marisqueiras
Materiais audiovisuais e educativos
Espaço para diálogo com parceiros e patrocinadores
Entrada: Gratuita
Realização: Instituto Goiamum
Apoio: FUNDEMA, SEBRAE, UFES
Contato para imprensa:
Email: projetogoiamum@gmail.com
Instagram: @institutogoiamum
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