A demissão de um aliado de uma gerência do governo do Estado pode ter sido a razão para que o enfurecido deputado Fabrício Gandini (Cidadania) aumentasse o tom do discurso e até mesmo desobedecesse as ordens do Palácio Anchieta, nesta quarta-feira (15).
Gandini chegou a perguntar para o também deputado estadual Tyago Hoffmam, braço direito do governador Renato Casagrande (PSB):
"Vai interromper a discussão com ameaças, com medo e terrorismo?”
O primeiro entrevero dentro da própria base do governo aconteceu durante a votação do projeto 75/2023, de autoria do governo do Estado, que institui uma bolsa-estudante para alunos matriculados na 4ª série do Ensino Médio das escolas da rede pública.
É uma medida para evitar a evasão escolar, justamente no final do Ensino Médio, quando muitos estudantes deixam a escola para ingressar no mercado de trabalho. O valor da bolsa, segundo o projeto, seria de R$ 400.
Porém, durante a votação do projeto nas comissões, o deputado Fabrício Gandini (Cidadania) apresentou uma emenda dobrando o valor da bolsa, que passaria a ser de R$ 800.
Conduzida pelo novato Mazinho dos Anjos, que é presidente da Comissão de Justiça, a votação da projeto com a emenda de Gandini quase ficou para depois do feriado de Carnaval, já que Mazinho queria usar do prazo regimental para analisar a emenda. Ele acabou recuando, a pedido de outros deputados, já que a próxima sessão será só no dia 27 de março.
Defendendo que a emenda seria inconstitucional, por criar despesas para o governo e por não ter apresentado o impacto financeiro, Mazinho rejeitou a emenda. Mas, Gandini apelou para a votação em plenário.
Por ser quarta-feira, alguns deputados estavam fora do plenário, acompanhando a sessão por meio virtual, como o líder do governo Dary Pagung (PSB) que pediu para que a emenda fosse rejeitada. Coube a Tyago Hoffmann (PSB), porém, fazer a articulação no plenário, com os deputados, para que o projeto fosse votado sem a emenda. Ele chegou a se comprometer em levar uma indicação ao governo pedindo o aumento do valor da bolsa.
Irredutível, Gandini não retirou a emenda e ganhou o apoio da oposição e também de alguns aliados que passaram a defender a proposta do deputado do proponente da emenda.
Tyago, então, fez uma fala mais incisiva e enfatizou que se a emenda fosse aprovada, o projeto poderia ser vetado e os estudantes ficariam sem a bolsa. “Essa Casa será responsabilizada”, alertou Tyago. Ele também reagiu à postura de Gandini: “Não estou entendendo o ímpeto de Vossa Excelência”.
A fala foi entendida como ameaça por Gandini que rebateu subindo o tom: “Se vetar, nós derrubamos o veto. Vai interromper a discussão com ameaças, com medo e terrorismo?”. Os dois chegaram a bater boca, enquanto a base batia cabeça sobre a votação.
Por se tratar de um projeto com forte apelo popular – um auxílio financeiro para estudantes – votar não à emenda poderia ser entendido – e traduzido por alguns agentes políticos nas redes sociais – como um voto contrário ao povo (leia-se também eleitor). Por outro lado, votar a favor da emenda poderia ser entendido como se posicionar contrário ao governo, autor da matéria.
Gandini pediu votação nominal – que é o tipo de votação em que o deputado é chamado pelo nome e expõe o voto no microfone.
Já a oposição ria à toa e, na última sessão antes do Carnaval, enxergou a possibilidade de colocar o bloco na rua. Votou em peso a favor da emenda do deputado da base aliada.
A emenda de Gandini venceu por um voto de diferença. Foram 13 votos favoráveis e 12 contrários. Além dos deputados do bloco liderado por Hudson Leal (Republicanos), votaram a favor da emenda o autor (Gandini) e os deputados da base: Adilson Espíndula (PDT), Xambinho (PSC), Zé Esmeraldo (PDT), Theodorico Ferraço (PP) e Vandinho Leite (PSDB).
Ao justificar seu voto, Vandinho deu a deixa do que estaria por trás da movimentação de Gandini: uma desigualdade no atendimento a deputados da base.
Vandinho também aproveitou para alfinetar Tyago: “Se tem alguém que ameniza isso é o líder do governo, Dary, que é bombeiro, é educado e tenta ver o melhor caminho para todo mundo”. A fala foi entendida como uma indireta à movimentação feita por Tyago no plenário, chamada de “política de ameaça e terrorismo” por Gandini.
Nos corredores da Assembleia o que se comenta é que Gandini estava bastante contrariado com a exoneração de um aliado, que detinha um cargo comissionado no governo.
Comandada pelo PT, a Secretaria de Estado do Esporte (Sesport), exonerou diversos cargos de gerência da pasta. Um deles trata-se de um indicado de Gandini – Anael Rodrigues Parente – que ocupava o posto de gerente de Esportes, de Formação e Rendimento. Outros cargos eram ligados a José Esmeraldo e Xambinho, ambos votaram contra o governo.
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