A pobreza no Brasil registrou, de 2020 para 2021, o maior aumento em pontos percentuais desde 1990, com um avanço entre 1,8 p.p. e 4,7 p.p., a depender da linha de corte.
A conclusão está no estudo “Um País na Contramão: A Pobreza no Brasil nos Últimos Dez Anos”, elaborado pelos pesquisadores Pedro Ferreira de Souza, Marcos Hecksher e Rafael Osorio, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
O objetivo foi documentar os níveis e as trajetórias do percentual de pobres na população brasileira para cinco linhas de pobreza que englobam faixas nacionais, com referência aos valores do então Programa Auxílio Brasil, e internacionais, utilizadas pela Organização das Nações Unidas no monitoramento da pobreza global.
A nota técnica concentra-se na evolução da pobreza no Brasil entre 2012 e 2021 e decompõe suas variações em dois aspectos: o “efeito crescimento”, dado por variações na renda média, e o “efeito redistribuição”, provocado por mudanças na desigualdade de renda.
Os pesquisadores do Ipea investigaram também o papel da política social no combate à pobreza, especificamente, como as transferências sociais do Bolsa Família/Auxílio Brasil, do Benefício de Prestação Continuada e do Auxílio Emergencial contribuíram para reduzir a pobreza.
A principal conclusão do estudo é que a pobreza aumentou entre 2012 e 2021, a partir da recessão de 2014 a 2016, revertendo parte dos avanços da década anterior. Tomando por base a linha de paridade do poder de compra a US$ 3,20 por dia – cujo valor é bem próximo da média das cinco linhas analisadas –, a taxa anual de pobreza saltou de 12,9% em 2012 para 15,7% em 2021 no Brasil, após as transferências de renda.
No último ano do período, a diminuição dos recursos para o Auxílio Emergencial em plena pandemia levou ao maior aumento da pobreza registrado depois do Plano Real. O aumento da desigualdade de renda foi o principal fator do aumento da pobreza, anulando os ganhos que poderiam ter resultado do pequeno crescimento da renda média de 2016 a 2019. Dessa forma, entre 2012 e 2021 o Brasil tornou-se mais pobre e desigual.
Os pesquisadores se basearam nos microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), cuja série histórica comparável cobre o período 2012-2021. Como os dados disponíveis se limitam a 2021, os pesquisadores não avaliaram os efeitos das mudanças ocorridas no Auxílio Brasil em 2022.
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