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7 em cada 10 alunos de graduação desistem de Matemática, Química e Física

Desistência tem reflexo na quantidade e qualidade dos professores que chegarão à sala de aula nas séries iniciais

31/05/2023 às 10h49 Atualizada em 31/05/2023 às 10h59
Por: Redação
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Dados apontam para uma série de desafios da educação brasileira, em que causas e consequências se misturam, segundo estatística, estudos e especialistas.
Dados apontam para uma série de desafios da educação brasileira, em que causas e consequências se misturam, segundo estatística, estudos e especialistas.

Os cursos de formação de professores em matemática, química e física têm taxas de desistência em torno de 70%, bem superior à média geral do sistema universitário.

Cerca de 7 em cada 10 ingressantes em 2012 em licenciaturas nessas áreas já havia abandonado o curso em 2021, segundo dados tabulados pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais). Por outro lado, as taxas de conclusão são as mais baixas nesses três cursos: é de 24% em física e 30% em matemática e química. 

O número de ingressantes em cursos de formação docente vem caindo desde 2020, e 77% dos novos alunos de 2021 se matricularam na educação a distância. A inadequação do ensino não presencial para a formação de professores é praticamente um consenso entre aqueles que se debruçam sobre o tema, sejam estudiosos ou políticos.

Esses dados apontam para uma série de desafios da educação brasileira, em que causas e consequências se misturam, segundo estatística, estudos e especialistas. Esse cenário envolve predominância de graduações a distância —aliada a uma estrutura pouco atraente de cursos—, acúmulo de dificuldades trazidas de uma educação básica ineficiente, além de baixa atratividade para a carreira docente.

Matemática, por exemplo, é a área com piores resultados nas avaliações de larga escala. O Brasil só consegue garantir que 5% dos estudantes terminem o ensino médio em escola pública com o aprendizado adequado em matemática.

Dos cerca de 2 milhões dos jovens que concluem essa etapa do ensino, mais de 1,9 milhão deixam a escola sem conseguir, por exemplo, resolver problemas de porcentagem ou usar o Teorema de Pitágoras.

 

Pesquisas já mostraram que as licenciaturas atraem alunos da educação básica com menor desempenho na educação básica. Quando se trata de cursos com altas cargas de conhecimentos escolares específicos, como a matemática, as dificuldades da educação básica se reverberam no ensino superior.

"Não há apenas um fator que explica a situação. Há, de início, um reflexo da própria educação básica, do fracasso no aprendizado de matemática. E a matemática tem conhecimento básico para aprender química e principalmente física. As reprovações são mais altas e isso colabora com a desistência", diz a diretora do instituto Reúna, Katia Smole, especialista em formação de professores em matemática.

Ex-secretária de Educação Básica do MEC (Ministério da Educação), Smole afirma que há um efeito cascata. "Quem entra nas licenciaturas ainda encontra modelos arraigados do início do século 20, distanciado da escola, não tem curso voltado para o que a gente chama de conhecimento pedagógico do conteúdo. Com a prevalência do ensino a distância, o desastre é generalizado", completa ela, que ressalta ainda a baixa atratividade da carreira como motivo de afastamentos dos alunos.

Dos 1,6 milhão de matrículas em licenciaturas no país, 64,4% estão em instituições privadas. Sete em cada dez são de mulheres.

Muitas redes de ensino já sofrem com falta de professores e já há estimativas de um possível apagão de docentes nos próximos anos. Um estudo do Semesp, entidade paulista que representa faculdades particulares, calcula que até 2040 o país terá um déficit de 240 mil professores.

A pesquisa aponta o impacto na queda de concluintes nesses cursos. Essa fase do levantamento não se aprofundou nas áreas, mas os dados disponíveis indicam que os maiores gargalos estão em formações específicas, como as de exatas.

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