A Justiça Federal condenou Cláudio Guerra a sete anos de prisão, em regime semiaberto, e aplicou uma multa de 10 mil reais por ocultação de corpos durante a ditadura militar.
Ele trabalhou como delegado do Departamento de Ordem Política e Social, o Dops, no Espírito Santo.
A decisão da juíza federal Maria Isadora Tiveron Frizão, titular da 2ª Vara Federal de Campos dos Goytacazes (RJ), considerou o depoimento prestado pelo delegado à Comissão Nacional da Verdade.
Na oitiva, ele afirmou ter auxiliado agentes da ditadura a incinerar corpos de vítimas de torturas em uma usina de cana-de-açúcar, entre 1973 e 1975.
A história também é narrada no livro Memórias de uma Guerra Suja, de autoria de Guerra, publicado em 2012.
A ação penal foi ajuizada pelo Ministério Público Federal e se relaciona ao desaparecimento de 12 militantes políticos no regime militar.
A magistrada concluiu ainda que a Lei de Anistia não é compatível com a Convenção Interamericana de Direitos Humanos e com a jurisprudência consolidada em cortes internacionais.
Quem é
Claudio Guerra é ex-delegado lotado no Dops/ES.
Atualmente cumpre prisão domiciliar condenado pela morte de sua esposa e de sua cunhada, ambas encontradas em um lixão em 1980.
É conhecido personagem da repressão política e nunca negou nenhum de seus crimes, tanto em seu livro “Memórias de uma Guerra Suja” como no documentário “Pastor Cláudio”, nos quais ele afirma categoricamente ter matado, pelo menos, 20 pessoas.
Mas seus crimes demoraram até serem julgados, e somente em 2019 virou réu pela Justiça Federal.
Em fevereiro de 2014, o Ministério Público Federal (MPF) ofereceu denúncia contra os generais Newton Cruz, Nilton Cerqueira e Edson Sá Rocha, o coronel Wilson Machado, o ex-delegado Cláudio Guerra e o major Divany Carvalho Barros, por participação no atentado do Riocentro. Hoje Guerra trabalha como ministro da Assembleia de Deus, e prefere ser chamado de Pastor.
Claudio Guerra ganhou fama ao publicizar que, enquanto agente do Dops/ES, queimava corpos em uma usina de açúcar desativada em Campos de Goytacazes, no Rio de Janeiro.
A incineração, segundo Guerra, passou a ser empregada enre 1974 e 1975, sendo usada em desaparecimentos forçados, pois por si só impediria a identificação da vítima.
Durante a ditadura, Guerra era membro de uma das equipes do coronel Freddie Perdigão (um dos importantes agentes do CIE) e mencionou, em audiência da CNV realizada em 23 de julho de 2014, que este último tinha dois grupos de trabalho distintos e secretos: um de tortura e interrogatório e outro de execução (do qual Guerra fazia parte).
Fez referência específica ao caso de Ana Rosa Kucinski Silva, militante da Ação Libertadora Nacional, que, conforme seu relato, teria sido torturada brutalmente no centro clandestino de Petrópolis conhecido por Casa da Morte.
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