Hoje é dia de comemoração pelo fim de uma época de pandemia y otras cositas más. Se estivéssemos na Itália em outros tempos, a multidão entoaria nas ruas a música Bella Ciao em delírio cívico.
Embora a origem da música seja controversa e muitos a situem no século 19, foi como hino de resistência ao fascismo que ela acabou por se popularizar, convertendo-se numa espécie de emblema da liberdade, após ser “incorporada” pelos partigiani (revolucionários) da Resistência.
Ela descreve o encontro com um “invasor” que tomou conta da casa de quem relata os fatos e que, em desespero, cogita a ideia da própria morte, numa reflexão que se mistura com o ânimo de reagir ao intruso.
Desse ânimo, surgem forças para tentar enfrentar essa atmosfera de crueldade e medo, sabendo que o último ato da peça poderá ser a morte do autor do relato, mas num contexto de euforia e de conclamação à música, vista como um ato de rejeição à brutalidade.
Com um compasso vivace, não é difícil entender por que a música acabou se transformando num símbolo de enfrentamento do arbítrio. Símbolo esse no qual, nos cânticos, a figura original da chamada ao ser amado se transforma numa despedida irônica à entidade (pessoa, partido ou movimento) que encarna aquilo cuja partida passa a ser objeto de festa.
Parodiando Galvão Bueno, bem se poderia gritar, como na Copa de 1994: “Acabou! Acaboooou!”.
Há símbolos que são retratos de época. A fotografia da menina fugindo do Napalm marcou a Guerra do Vietnã. A frase de que “a civilização abandonou o Brasil”, de Yvonne Bezerra, será uma definição dos anos que estamos encerrando nestes tristes trópicos, com sua sequela de absurdos. Em breve, voltaremos a tratar de números e outros aspectos da realidade. Besteiras fiscais não faltarão. Hoje, é momento de celebração – e de gritar, a plenos pulmões: BELLA CIAO, CIAO, CIAO!
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