O grito primal é a base da psicoterapia primal, uma forma de tratamento psicoterapêutico cujo princípio é evocar um sofrimento psicológico profundo e enterrado há muito tempo expressando um grito poderoso.
Esta técnica é interessante nos tratamentos de estados psiquiátricos crônicos, como algumas neuroses.
Diversas séries são necessárias para atingir o grito primal, elemento libertador que permite ao paciente reencontrar o equilíbrio mental.
Segundo Anderson Siqueira Pereira, psicólogo, doutor em psicologia pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e professor na Wainer Psicologia Cognitiva, gritar realmente libera substâncias que aliviam o estresse, mas em excesso isso pode ser ruim.
"Ao gritar, a amigdala e o sistema límbico, que são os responsáveis pelo processamento das emoções e pela avaliação de perigo, são ativados. O cérebro interpreta a situação como perigosa e libera neurotransmissores semelhantes aos emitidos durante a prática esportiva. Esses neurotransmissores diminuem a sensação ruim que um momento de estresse pode ter gerado", afirma Pereira.
Porém, se o recurso for empregado a todo instante, seu efeito será oposto. O excesso de neurotransmissores pode causar mais estresse, transtornos de ansiedade e depressão. "Berrar provoca também lesões nas pregas vocais", alerta Scheila Farias de Paiva, professora do curso de fonoaudiologia da UFS (Universidade Federal de Sergipe).
É importante lembrar também que o grito em si não é exatamente uma terapia, mas o alívio que algumas pessoas sentem ao berrar pode ser útil se unido a um programa de terapia mais amplo com um psicólogo.
As crianças começam a gritar por volta dos quatro meses de idade, no momento em que estão descobrindo o próprio corpo e percebendo como seus comportamentos impactam os pais e o ambiente.
"A manutenção dessa conduta dependerá tanto do temperamento da criança —ativa, retraída, depressiva ou animada, por exemplo— quanto da reação dos pais, para que ela tenha, no futuro, esse comportamento. Uma reação muito negativa, como xingar, bater ou proibir, fará com que ela reprima essa manifestação no futuro", esclarece Pereira.
Além disso, existem indivíduos que possuem dificuldades no processo de sentir e expressar emoções. Normalmente, eles tiveram suas necessidades emocionais negligenciadas ou punidas, durante a infância, podem ter dificuldade de sentir e expressar raiva, apresentam-se passivos e sentem-se sem controle da própria vida.
Na opinião de Pereira, estimular a pessoa a bradar representa uma forma de ajudá-la a sentir e expressar emoções. A ideia não é fazer com que ela saia berrando com os outros, mas utilizar o ambiente seguro da terapia para ventilar as emoções e perceber no corpo os sinais das emoções.
A dificuldade ou a facilidade em se expressar pode ser, inclusive, um aspecto cultural. Alguns povos são mais expressivos comparados a outros. No caso do Brasil, no qual há a influência de diversas procedências, berrar pode ser visto como normal em algumas famílias e ser recriminado em outras.
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