Consumidores de países como Estados Unidos, Inglaterra, Portugal e Nova Zelândia estão enfrentando neste início de ano uma escassez global de ovos de galinha.
Nos Estados Unidos, a falta de ovos se deve principalmente a um surto de gripe aviária; Na Europa, a oferta de ovos vem sendo afetada, além da gripe aviária, pela alta dos custos de grãos e energia elétrica em decorrência da guerra entre Rússia e Ucrânia; Na Nova Zelândia, um processo gradual de zerar a criação de aves poedeiras em gaiolas que começou em 2012 tinha como limite 1º de janeiro de 2023.
A mudança na legislação elevou os custos de produção e o aumento da demanda não acompanhou a novidade. Com a alta dos preços nos Estados Unidos, autoridades vêm aumentando as apreensões de ovos contrabandeados na fronteira com o México.
No Brasil, pode faltar ovo?
Não existe o problema da gripe aviária no território nacional, portanto, não devem faltar ovos para os consumidores brasileiros. O que pode acontecer, no entanto, é a manutenção de preços elevados devido a uma produção menor prevista para 2023.
A falta de chuvas em 2020 fez com que a safra do milho fosse 16% menor do que no período anterior, segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), elevando fortemente o preço dos grãos no país.
Isso explica a queda na produção de ovos no Brasil em 2022, que deverá se manter neste ano. Inflação. Segundo o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), o ovo de galinha subiu 18,45% em 2022.
Já de acordo com uma pesquisa da cesta básica realizada pelo Procon-SP em convênio com o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), em dezembro de 2022 a dúzia de ovos custou em média R$ 10,63 na cidade de São Paulo. Um ano antes o valor registrado foi R$ 8,26.
Espírito Santo
A cidade de Santa Maria de Jetibá, no Espírito Santo, ficou conhecida como a capital do ovo, após se tornar a maior produtora do Brasil. No município, que já foi famoso pelo plantio de café, a avicultura é aproveitada desde os ovos ao esterco das galinhas, usado como adubo.
A produção de ovos na região começou há cerca de 60 anos, com Erasmo Berger. Após voltar de um período no Rio de Janeiro, ele trouxe 550 pintinhos. Para garantir o bem-estar dos filhotes, Berger dormia com as aves.
Na região, o nicho era novidade e criou polêmica entre os vizinhos, que falavam que Berger "quebraria" o pai dele. Mas a realidade foi diferente, a produção foi crescendo e em 1964, 2 anos depois, uma cooperativa foi criada.
Hoje, a Cooperativa Agropecuária Centro Serrana (Coopeavi) conta com mais de 100 associados apenas na área de galinhas de postura. Os criadores conseguem descontos para comprar os pintinhos e insumos e têm garantia de comercialização do que foi produzido.
Além disso, a estrutura rústica foi ganhando investimento em tecnologia ao longo dos anos. Atualmente, a granja de Berger tem 2 milhões de aves que produzem 1,6 milhão de ovos por dia.
Paixão contagiante
A paixão de Berger conseguiu conquistar outros produtores rurais da região, que hoje tem 16 milhões de galinhas poedeiras. As aves ganharam uma homenagem na entrada da cidade: uma escultura de galinha gigante.
Em Santa Maria de Jetibá, até o esterco tem utilidade. O município produz quase 40 mil toneladas por mês.
A matéria-prima vai para um galpão, onde recebe ingredientes que ajudam na sua compostagem, como casca de ovos. Depois de 15 dias, o resultado é um adubo de qualidade, vendido para agricultores de todo o estado.
Já os ovos abastecem o Espírito Santo e também vão para o Rio de Janeiro, Minas Gerais e partes do Nordeste. O estado responde por quase 10% de toda a produção brasileira de ovo.
No município, a agropecuária representa cerca de 50% da arrecadação, dos quais 60% têm origem na avicultura. A produção de ovos gera 9 mil empregos diretos no município.
Desistindo das galinhas
Apesar do crescimento do setor na região, os criadores também enfrentam dificuldades. O Espírito Santo não consegue produzir grãos suficientes para compor a ração dos animais. Quase todos os cereais usados no município são comprados no Centro-Oeste brasileiro.
O milho e a soja, principais insumos para a alimentação das aves, teve alta. Segundo Nélio Hand, presidente da Associação dos Agricultores, houve uma elevação de mais de 110% dos gastos com milho durante a pandemia.
Os altos custos de produção fizeram que alguns criadores desistissem do setor. Santa Maria de Jetibá tem hoje 120 granjas, no ano passado o número era de 146.
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