Sabe aquela conversa que vai tomando rumos acalorados e termina em bate-boca, fim de amizade ou até mesmo agressão e morte?
Especialistas afirmam que falar somente o essencial, refletir antes de responder e, sobretudo, preferir as conversas em que é possível conectar-se verdadeiramente com o outro tornam a vida mais saudável, menos estressante e evitam conflitos desnecessários.
A ideia do “calado vence” (frase que tornou-se tônica para fugir de encrencas nas redes sociais) tem sido defendida por especialistas em saúde e bem-estar como o útimo grito do autocuidado, com aplicação fácil: basta falar menos, ouvir mais e aproveitar os momentos de silêncio.
O manuscrito da nova onda é o livro STFU: The Power of Keeping Your Mouth Shut in an Endlessly Noisy World, do inglês “O Poder de manter a boca calada num mundo infinitamente barulhento”, lançado recentemente nos Estados Unidos e ainda sem versão brasileira.
Na publicação, o jornalista Dan Lyons descreve suas desventuras falando demais em toda sorte de ocasiões: em casa, no trabalho e na internet.
Também detalha como a incapacidade de ficar quieto atrapalhou suas relações profissionais e familiares.
Para sanar os problemas, ele defende ficar quieto sempre que possível e, além disso, dar um chega pra lá nas redes sociais.
De acordo com o autor, é exagerado dizer que há um avanço mágico em falar menos.
Mas há alguns indicativos: se a ideia é melhorar a saúde do coração, algumas análises mais antigas sugerem que a fala pode aumentar índices de pressão arterial mesmo para adultos saudáveis, sem o indicativo de que sofram de doença cardíaca.
Não se trata, porém, de encerrar contatos com amigos e afetos para melhorar a vida.
Pelo contrário, trocar ideias profundamente sobre assuntos que particularmente nos interessam, com reflexões sobre o que dizer e, sobretudo, lançando mão de perguntas para ouvir quem está no mesmo ambiente é a chave para uma vida um pouco mais feliz.
Uma análise de 2018, realizada com cerca de 500 pessoas pela Universidade no Arizona, nos EUA, mostrou que pessoas engajadadas em conversas substanciais, com assuntos que realmente interessam aos interlocutores (não importa a variedade, pode ser política, relacionamentos ou clima) mostratram-se mais felizes e satisfeitas num cenário geral.
O pesquisador responsável, Mathias Mehl, chegou a achar que a conversa de elevador fazia mal à saúde.
Agora, contudo, apenas classifica que falar de maneira mais engajada faz bem — e pode figuarar como ferramenta para viver melhor.
A chave para não exagerar é saber quando você está falando porque está ansioso, ou apenas para preencher um espaço silencioso. E, claro, se as suas palavras terão utilidade.
Há, inclusive, no budismo um conceito de “right speach” (do inglês, ‘fala correta’).
Por vezes a melhor coisa a se dizer é nada. — diz Mark, cuja formação foi na Universidade de Harvard. Em seu consultório, em Nova York, o profissional utiliza práticas que aprendeu na meditação para ouvir os pacientes propriamente.
Quando alguém começa a falar sem freio e não está concatenando tudo como deveria, o especialista pede que a pessoa em questão olhe para ele e diga seu nome para começar as frases: pode ser “Mark” ou “doutor Epstein”. Isso aproxima as coisas, ele diz.
Dá para cultivar o silêncio e alguma paz de espírito se conseguimos aprender a não levar nossos pensamentos tão a sério. Isso dá algum tipo de liberdade porque não seremos enganados, nem controlados por pensamentos ou impulsos.
Silêncio e a escuta
Outras análises se debruçam sobre a relevância do silêncio para potencializar a saúde e a vida profissional.
Um estudo publicado recentemente no British Journal of Psychology sugere que pessoas idosas precisam de um tempo sozinhas após um encontro social, para justamente recarregar as energias. Em geral, é notada a percepção de que o silêncio pode — no lugar de minar a comunicação — promover uma troca mais vantajosa para todos os lados.
É importante dar uma pausa para pensar antes de dizer as coisas.
Isso diz respeito a “descansar” o mecanismo mental de resposta e, de certa maneira, até preservar nossa reputação.
Essa é uma estratégia que serve como um ponto de partida para ouvir (verdadeiramente) e estar presente. E é algo cada vez mais raro no mundo de hoje — diz Justin Zorn, ex-assessor legislativo coautor do livro “O silêncio vale ouro”, da editora Sextante. — Existe um conceito na arte japonesa que chamamos de “Ma”, em resumo, é o espaço entre as coisas.
A beleza do espaço entre as coisas. Acredito que para estar realmente presente com outra pessoa precisamos respeitar o espaço entre as perguntas e respostas.
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